Balanço IndieLisboa 2014 — Competição Internacional de Curtas-Metragens


O primeiro balanço a fazer da Competição Internacional de Curtas-Metragens do IndieLisboa2014 vai para o realce da qualidade acima da média dos títulos apresentados, numa "montra" de 37 títulos onde imperou, feliz e obrigatoriamente, a busca por um Cinema realmente abrangente, através da variedade de registos (do género às emoções proporcionadas, passando pela capacidade de surpresa) exibidos.

O segundo destaque vai para a assertiva decisão do júri em premiar MILLE SOLEILS, de Mati Diop, como a Melhor Curta em Competição.


Numa fusão entre o documentário e a ficção, este assombroso retrato de Magaye Niang, o agora decadente protagonista de TOUKI-BOUKI (de Djibril Diop Mambéty, tio da realizadora Mati Diop), ousa contrapor, num modo que só o Cinema sabe fabricar, a memória histórica à pura melancolia onírica, testemunhando as ambições e dilemas da diáspora africana.

Ainda no campo do cinema documental, a reflexão sobre o mundo contemporâneo — a crise económica, talvez para alívio dos espectadores, esteve praticamente ausente da Competição — surgiu nos cinco títulos centrados em realidades que não ocupam as atenções imediatas dos media: NASZA KLATWA (uma corajosa exposição da doença do filho do próprio realizador Tomasz Sliwinski, nascido com uma rara doença congénita, que arrecadou o Prémio do Público), DER UNFERTIGE (de Jan Soldat, sobre um "escravo" voluntário que, nesse aprisionamento, afirma-se como o homem mais livre do mundo moderno), ESCORT (de Guido Hendrikx, sóbrio retrato dos oficiais holandeses responsáveis por acompanhar deportados, premiado com uma Menção Honrosa), LE PETIT PRINCE AU PAYS QUI DÉFILE (de Carina Freire, sobre o peculiar quotidiano do patinador luso-descendente Stéphane Lambiel, um confesso admirador, e em português fluente, "da bica cheia e do pastel de nata") e THE DISQUIET (de Ali Cherri, investigação aterradora em torno da História da actividade sísmica do Líbano).


O filme experimental encontrou, no IndieLisboa 2014, terreno fértil para a sua notoriedade, e com resultados medianamente satisfatórios. Na produção portuguesa, A CAÇA REVOLUÇÕES (Margarida Rego) foi título em destaque pela exortação de nunca se deixar envelhecer a "revolução" — e não só a do 25 de Abril de 1974...


Entre outras propostas, deixaram positiva impressão a experiência split screen num smartphone de HEIGHTS (Calum Walter), as memórias sensoriais e vivências sobrepostas do terramoto de 2011 no Japão em SUBSTANZ (Sebastian Mez) ou o álbum de família(s) de uma aldeia em ruínas de LOS GUARDINES (Miguel Aparicio). Já AS FIGURAS GRAVADAS NA FACA COM A SEIVA DAS BANANEIRAS (Joana Pimenta), outra proposta nacional, constitui-se como caso merecedor de reanálise futura: à primeira impressão, não se encontraram as razões para apreço no seu sentido pertinente nem na sua composição formal.

Nos meandros da ficção — um conjunto que, na nossa opinião, poderia ter gerado justos premiados —, a Competição Internacional do IndieLisboa ficou assinalada por dois salutares regressos ao Festival: John Skoog, com a exigente formalidade sensorial de FÖRÅR, e Dominga Sotomayor Castillo (coadjuvada por Katarzyna Klimkiewicz), num encontro de família marcado pela tensa ausência de um dos seus membros, tal como testemunhado pelo impressionante LA ISLA.


Ainda no âmbito do cinema ficcional, registo para o fulgor de três cineastas estreantes: a experiência psicadélica de IRL (Grant Singer), a inquietação social e familiar no seio de uma rígida sociedade muçulmana rumo à sua quase inevitável ocidentalização em LES JOURS D'AVANT (Karim Moussaoui) ou o fresco de bombásticas revelações no feminino de QUELQU'UN D'EXTRAORDINAIRE (Monia Chokri, actriz habituée de Xavier Dolan), evidenciam a prossecução da tradição do IndieLisboa em apresentar valores artísticos a ter em conta no futuro.

A animação, género quase indissociável do formato da curta-metragem, encontrou na 11ª edição do Festival quatro distintivos representantes, dos quais o humor irónico e absurdo, com laivos de manifesto ecológico, de SYMPHONY NO. 42 (Menção Honrosa do júri realizada por Réka Bucsi), foi o seu ponto alto.


THROUGH THE HAWTHORN (Anna Benner, Pia Borg e Gemma Burditt), no realce, através da sua diversidade de técnicas de animação, dos perturbadores estados de espírito nos intervenientes de uma consulta psiquiátrica, VIRTUOS VIRTUELL (Thomas Stellmach e Maja Oschmann), uma coreografia, a aguarela negra, de uma ópera de Louis Spohr, e YEARBOOK (Bernardo Britto), ternurento requiem para o fim do mundo, são os outros títulos que ficaram na memória.

Classificações individuais / Individual standings

  • A CAÇA REVOLUÇÕES


  • AS FIGURAS GRAVADAS NA FACA COM A SEIVA DAS BANANEIRAS


  • AS ROSAS BRANCAS


  • ATÉ O CÉU LEVA MAIS OU MENOS 15 MINUTOS


  • DER UNFERTIGE


  • ESCORT


  • FÖRÅR


  • HEIGHTS


  • IMPLAUSIBLE THINGS


  • IRL


  • LA ISLA


  • LA LAMPE AU BEURRE DE YAK


  • LE PETIT PRINCE AU PAYS QUI DÉFILE


  • LES JOURS D'AVANT


  • LOS GUARDINES


  • MILLE SOLEILS


  • MOLII


  • MONTENEGRO


  • NASZA KLATWA


  • POUCO MAIS DE UM MÊS


  • PREHISTORIC CABARET


  • QUE JE TOMBE TOUT LE TEMPS?


  • QUELQU'UN D'EXTRAORDINAIRE


  • REIGN OF SILENCE


  • SYMPHONY NO. 42


  • SUBSTANZ


  • THE DISQUIET


  • THE MAN WHO MISTOOK HIS WIFE FOR A HAT


  • THE RUNAWAY


  • THEODORE CASSON


  • THROUGH THE HAWTHORN


  • UN ROI SANS DIVERTISSEMENT


  • UNE VIE RADIEUSE


  • VIRTUOS VIRTUELL


  • WORKING TO BEAT THE DEVIL


  • YEARBOOK


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